segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Maratona do Porto - 2012


A fé move montanhas e torna possível o impossível para aquele que crê verdadeiramente...

Há (certos) momentos que valem uma vida, todos nós sonhamos e queremos que os nossos sonhos se tornem reais, fazer uma maratona é um sonho (realizável) que exige dedicação, esforço, disciplina, sofrimento, perseverância e vontade de vencer.

Diz a sabedoria popular: " um livro, um filho, uma árvore..." pode ser verdadeiro para alguns e não para todos, convicente  para muitos e satisfatório para poucos, pois eu atrevo-me a acrescentar para todo o comum mortal... um livro, um filho, uma árvore e uma maratona.

Fiz a Maratona de Lisboa, em Dezembro do ano passado e depois de a ter terminado o pensamento  ou desejo imediato e quase que  inconsciente é  de quando e qual seria a próxima maratona, começo seriamente a ficar preocupado  e pensar que todos os corredores de louco, todos têm um pouco, ou serei só (apenas) eu ?

 Logo a dose teria que ser novamente experimentada...

Por várias vezes passou-me pela cabeça, fazer esta prova na Invicta, tive muitas vezes esse desabafo com o Hamilton quando a 14 de Agosto liga-me e pergunta:

Fábio sempre vamos fazer a Maratona do Porto?

Não recordo-me do que disse-lhe bem ao certo, mas fez-se magia por (breves) instantes, estava inesperadamente a ouvir o que ansiosamente queria, claro que a resposta foi afirmativa e eufórico senti-me como uma criança a quem dão um brinquedo e  tentado iludir-me pensei que desta vez fosse treinar a sério, o resto da história já (todos) conhecem, qual treinos, qual carapuça...de boas intenções está o inferno cheio!

Evitei ao máximo repetir  o erro de não seguir um plano de treinos como é estritamente aconselhável, para  quando voltasse a repetir a mítica distância de 42.195 Km, não fosse sofrer demasiado, fruto de irresponsabilidade, falta de rigor e método, infelizmente as palavras leva-as o vento não tendo treinado rigorosamente nada, limitei-me apenas em participar em provas desde o dia 16 de Setembro, na Meia Maratona que se disputou  também aqui na capital do norte e que dá o nome a prova e efectuado  um único treino longo no feriado de 5 de Outubro na companhia agradável de amigos, fiz(emos) 30 Km do Caís do Sodré até à Casa da Guia em Cascais.

Todos os dias adiava e numa luta interior, o hoje tornava-se amanhã, o amanhã no depois do amanhã e assim sucessivamente os dias passavam a semanas e semanas a meses e como o tempo voa sem notarmos, rapidamente chegou  o Dia D, ou melhor Dia M,  de Maratona , 28 de Outubro e sem a rotina do treino e seguindo um procedimento incorrecto, para não dizer absurdamente estúpido, atirei-me (novamente) de cabeça!

Não fujo a desafios, tive que jogar todas as cartas do baralho em cima da mesa e apostar no factor emocional e psicológico, ser forte mentalmente e o fisíco que se aguentasse à bobonca, como diz a música quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga, só algo extremamente forte impedir-me-ía de avançar, recuar não está no meu dicionário e nada me faria demover de alcançar o meu objectivo que tive que (re)definir e em vez de melhor o tempo da estreia, já me contentaria em simplesmente acabar mesmo fazendo pior registo.

Comparativamente ao ano passado, fui ainda mais descuidado e imprudente na alimentação, não ingeri tantos hidratos de carbono de absorção lenta, como é altamente recomendado, mas ao menos tive o cuidado em ingerir 2 litros e meio de água e a comer  banana e nozes em jejum e a meio da tarde.

Véspera da Prova ( 2012/10/27)
07H : 00 - Acordar com música dos U2.
07H : 20 - Banho matinal
07H : 30 - Pequeno-almoço: 1 copo de água morno, banana e um yogurt de morango.
07H : 40 - Saída para o ponto de encontro no Campo Grande, autocarro disponibilizado pela organização    da Maratona do Porto e colaboração da simpática Ana Pereira.
08H: 30 - Partida do autocarro, destino Porto.
12H: 30 - Levantamento dos dorsais no Centro de Congressos da Alfândega do Porto, onde ao mesmo tempo decorria a "Pasta Party", refeição de massa própria para maratonistas.
13H:  30 - 21H: 00 - Após almoço (tardio) em casa de familiares, passeio turístico pelo Porto.
21H:  30 - Chegada ao Hotel.
22H:  00 - Jantar na churrasqueira, chegámos tarde ao hotel e com já quase tudo fechado, fomos comer só para "aconchegar" o estômago, como não havia massas, não tivemos outro remédio que não batatas fritas, frango e arroz q.b.diga-se muito convencional e apropriado para um desportista :-)
22H: 30 - Preparação do equipamento, de modo que estivesse logo pronto a vestir, sem esquecer de deixar por perto, vaselina e "energy gel".

Dia da Prova (2012/10/28)

06H : 20 - Acordar e tomar um banhozinho retemperador.
06H : 50 - 2 fatias de Broa de Avintes, que tinhámos comprado na churrasqueira, meio litro de bebida  isotónica.
08H : 00 - Conforme combinado, encontro dos 3 mosqueteiros na entrada do hotel ( Carmo, Gameiro e Hamilton).
09H : 00 - Começo da Odisseia.

No bolso dos calções de corrida, uma nota de 10 euros, uma imagem do Padre Pio, para as horas de infortúnio e sofrimento, o inseparável (companheiro) MP 3 para os momentos de solidão, Ventilan porque estava frio e vento e segundo conselho médico e a máquina fotográfica que desta vez não clicou ( quase) nada, mais um pouco e ainda corro com a mala do Sport Billy...

Dividi  mentalmente a prova em 3 partes: meia-maratona, que  já fiz algumas vezes e não é novidade e depois é como se fosse fazer duas provas de 10 Km, e esta distância, pensava baixinho, isto é canja, faço com um perna às costas, depois os últimos 2 quilómetros é só um pózinho!

A "meia-maratona" correu-me na perfeição, ritmo de 6 min/km apesar do batimento cardíaco alto para o que eu desejava, mas sempre tranquilo  e sem muito esforço.

Na primeira "prova de 10 Km", o andamento diminuiu significativamente, apesar de sentir-me bem e confortável, chego ao vigéssimo quinto quilómetro, no abastecimento só havia água, e supostamente era para ter também sólidos, segui em frente e fiz os restantes 5 quilómetros e para meu desapontamento, novamente água e uma só garrafa de powerade, os que vieram atrás só tiveram direito a água, novamente sem sólidos nem marmelada nem banana nem raio que pareça! Nem acreditei...

Tudo bem há outros abastecimentos pensei eu que só tinha trazido 2 géis um para o 10 e 15º. quilómetro porque tinha visto que a partir do vigéssimo deixava de só haver água, dou início à "2ª. prova de 10 Km", noto nitidamente uma quebra acentuada, chego ao 35º. Km os voluntários já arrumavam as mesas e já os funcionários da limpeza recolhiam o lixo e garrafas, nem acreditei, entretanto já começava a ter forte caibras as "barrigas da perna" doíam-me muito, nunca tinha passado por esta situação, hoje a frio deveria ter parado e alongado, persisti e alternava a corrida (lenta), com caminhada, não podia era parar e mesmo quando iniciava a corrida depois do andamento, custava e como custava, dores insuportáveis, mas pensava este é o espiríto da maratona...

Sabia que  fazendo 30 Km, nunca desistiria, nem que fosse a gatinhar ou  a rastejar, morrer na praia não é para mim, simplesmente não existe! "Ponto Final".

Finalmente chego ao último abastecimento antes da meta (40 Km) apesar de alguma réstia de esperança, a mesma desvaneceu-se rapidamente, só água novamente, fiquei incrédulo e estupefacto, o que pensarão os "turistas desportivos" que vinham ao meu lado e  atrás de mim? Fiquei triste e não pensei que esta prova que é considerada referência nesta distância falhasse e logo no essencial para as "tartarugas"! Segundo os que também comigo caminhavam e participaram no ano passado, os abastecimentos em 2011 foram em abundância, desde muita fruta variada e diversificada ( melancia) e bebidas isotónicas!

Sinceramente, não sei o que falhou neste capítulo! Não seria prudente a organização  e outras seguirem o último atleta, em vez da ambulância?
 
Bem, voltando à corrida, os dois quilómetros finais mesmo em esforço foram feitos a correr lentamente, até à meta da glória, perto de familiares e amigos.

Agora  venha a próxima...

Apesar da questão dos abastecimentos, reconheço que organizar uma maratona desta envergadura, não é tarefa fácil, antes pelo contrário, cerca de 10.000 participantes em todas as provas e sendo que 1668 terminaram a prova rainha, muitos atletas "nuestros hermanos", concerto de Fado no sábado, "Pasta Party" gratuita e a 6 euros para os acompanhantes, sistema de cronometragem a funcionar na perfeição, pacemakers para definição de tempos, animação em vários pontos com bandas musicais, dorsais personalizados e placas identificativas dos quilómetros.

Não sei se vou manter o blogue, irei fazer a Corrida da Ajuda e depois só devo voltar no próximo ano, logo se verá, despeço-me agradecendo a todos (familiares/amigos/companheiros) dedicando-lhes esta maratona que fiz e que estiveram sempre ao meu lado apoiando e incentivando-me, não querendo ser deselegante e porventura esquecer alguém não vou frisar nomes, pois os próprios sabem quem são! MUITO OBRIGADO!

Agradecimento especial à fotógrafa Sandra Oliveira!

Sabem quem é?

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domingo, 21 de outubro de 2012

Corrida do Tejo - 2012


É (quase) uma experiência religiosa...

Todos os anos em finais de Outubro, desde 2007 ininterruptamente o (nosso) destino é Algés para a participação (activa) numa manisfestação popular e desportiva que se tornou uma (autêntica) romaria...Corrida do Tejo.

Cerca de 10.000 "devotos" ano após ano tornam esta corrida única, embora queira-me parecer que foram muitos mais que os anunciados pela organização,  na mais participada e prestigiada prova na distância de 10.000 metros em Portugal, com um percurso que decorre num enquadramento paisagístico perfeito na marginal entre Algés e a Praia da Torre em Oeiras.

Não existem palavras para exprimir o que esta prova significa para mim, eventualmente por  ter sido "love at first sight", um amor sem paralelo e confesso que não não consigo disfarçar e ser imparcial na corrida à cargo da Nike Portugal,  que proporciona a todos os participantes óptimas condições para o atleta de alta competição e ao mais vulgares dos atletas em que eu me incluo.

Nada inalterável, podem ler os textos dos anos anteriores que a qualidade manteve-se para nosso regozijo.

Este ano por coincidência, a marginal enlutou-se e vestiu-se de preto, quase que retratando a nossa cada vez mais triste realidade social e política que atravessamos,  inqualificáveis  (des)medidas de austeridade e a sensação de um (des)governo incapaz de resolver os problemas da nação, mas é melhor não alongar-me muito, política  não é para aqui  nem tida nem achada, não vá eu arranjar coisas com que me aborreça!

Às horas que escrevo estas linhas e precisamente de hoje a daqui a uma semana espero já estar a terminar a Maratona do Porto,  embora este ano não esteja mentalmente preparado como deveria, mas de uma coisa sei, sou um "duro" e tudo farei para a terminar!

No sector masculino o vencedor foi Rui Silva do Sporting que superou os dois atletas benfiquistas Rui Pinto e Samuel Barata, enquanto no sector feminino a Jessica Augusto venceu pela 4ª. vez consecutiva com a Ercília Machado e Sandra Teixeira a ocuparem respectivamente os restantes lugares do pódio.

Uma palavra de agradecimento à Sandrinha que fez-me (agradável) companhia e fartou-se de "dar ao dedo", tirando centenas de fotografias!

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A minha prova (4574  da classificação oficial): aqui

domingo, 14 de outubro de 2012

Corrida Sporting - 2012



Festa verde e branca...

Pelo segundo ano consecutivo, o Sporting Clube de Portugal, em parceria com a HMS Sports, depois do (estrondoso) sucesso da estreia, conseguiram com "esforço, dedicação, devoção e glória", realizar uma prova que honra os pergaminhos do clube, referência nesta modalidade que cada vez conquista mais entusiastas.

Denominada, Corrida do Sporting, mas que pessoalmente não ficaria (nada) mal, antes pelo contrário, se  os dirigentes/organizadores ponderassem dar a este evento o nome do "senhor atletismo" o Profº. Moniz Pereira, responsável máximo pela secção de atletismo, treinador/formador de campeões olímpicos, recordistas mundiais e novos talentos, deixo aqui a minha sugestão.

Aproveitando a "onda" seria também interessante organizar uma corrida não competitiva, uma Caminhada com menos quilómetros, para que toda a família leonina e não só, pudessem participar activamente na festa, já que o programa começou logo pelas 09H: 00 com a Corrida Jubas, destinada à pequenada, dos 5 aos 12 anos e vi bastantes participantes com o intuito de não fazer a distância preconizada.

Relativamente à prova principal, com partida e chegada no Estádio José Alvalade, deu início às 10: 30, perto da clínica da CUF, e terminou no relvado do estádio, percurso citadino que manteve-se inalterável, comparativamente ao ano passado, com a diferença da existência de blocos de partida (peacemakers), uma óptima iniciativa, pois haverá sempre quem sem propósitos de tempo ou ambição desportiva persista em partir à frente, originando depois quedas como a que assisti aqui na no ano passado.

Com mais de 5.000 inscritos, incluindo prova para pessoas com mobilidade reduzida, 2 abastecimentos de água ao longo do trajecto e bebida isotónica no final com uma maça de Alcobaça, dorsais personalizados, t-shirt técnica que só não teve como destino o caixote do lixo, porque ofereci a um sportinguista dos sete costados com  59 anos de sócio , assim como a medalha de participação.

Outro destaque digno de relevo vai para a "lagartixinha" Sandra Oliveira, que fez nesta prova a sua (brilhante) estreia neste "mundo louco das corridas", com as amigas Débora, Dalila e Rute e tiveram um comportamento meritório.

Presença de vários atletas "leoninos" e representantes simbólicos de várias modalidades ligadas a esta Instituição por quem tenho respeito, pois não sou fanático ou faccioso a ponto de saber reconhecer a grandeza de clubes rivais, mas "cruz, credo, canhoto" eu algum dia andar de leão ao peito! Nem pensar, fui rigorosamente equipado, com a camisola do "glorioso", Sport Lisboa e Benfica, e confesso que fui (muito) bem recebido, estava à espera de receber alguma provocação ou insulto, mas tal não sucedeu, até brincavam e queriam tirar fotos comigo :-) Obrigado, para o ano cá estarei de novo!
A Amizade não tem Clube...

Site e Classificação Geral: aqui
Fotos Amantes da Corrida: aqui 
Fotos Atletismo Magazine: aqui
Percurso e altimetria: aqui

domingo, 7 de outubro de 2012

Corrida da Água - 2012



Na semana em que é assinalado em Portugal, no primeiro dia do mês de Outubro, o Dia Nacional da Água, não confundir com o Dia Mundial da Água, comemorado a 22 de Março, realizou-se a Corrida da Água, eventualmente deverá ser este o motivo que dá o nome ao evento desportivo.

Depois da 1ª. edição ter sido um êxito, resolvemos voltar, organização técnica  a cargo da Xistarca e apoio da Epal, composta pela prova principal com pouco menos de 10.000 metros e uma Caminhada de aproximadamente 3.000 metros,  ambos com o percurso "obrigatório" no Aqueduto das Águas Livres.

Cerca de milhar e meio de participantes nas duas provas, partida às 10H: 00 na Estrada da Serafina e meta no Parque do Calhau.

Aspecto positivo da prova, com o custo de 8 euros a demonstrarem que se consegue realizar provas do (bom) agrado dos atletas do pelotão, e não como muitas outras provas que se aproximam e outras tantas ao longo do ano, cujas inscrições chegam a ser (estupidamente) caras relativamente ao binómio qualidade/ valor da inscrição, mas também só vai quem quer,  isso é um facto incontestável.

Quilómetros identificados, oferta de uma t-shirt técnica e medalha no final. E abastecimentos?

Eis o aspecto menos positivo da prova, por isso não escrevi que voltou a ser novamente um êxito, foi  inqualificável a falta de água no abastecimento a meio do percurso para os corredores do fim do pelotão, foi com muito desagrado que vários atletas demonstraram o seu descontentamento,eu próprio fiquei (muito) desapontado com esta grave falha por parte da organização.

Quanto a nível pessoal,  depois de na sexta-feira ter feito um treino espectacular de 30 Km entre o Caís do Sodré e a Casa da Guia no Guincho, na companhia de Amigos,com letra maiúscula, o objectivo foi  unicamente "rodar" e olhar para os batimentos cardíacos, e agora que finalmente já corro com o meu pulsómetro que veio do "médico"  ir ao ritmo que pretendo fazer na Maratona do Porto.

Mais uma vez a grata oportunidade para (re)ver, abraçar e estar com bons amigos, não preciso frisar nomes pois sabem quem são, calorosos, simpáticos e agradáveis, porque também há aqueles, os incovenientes, que quando não têm mais nada que falar, aborrecem-me com piadinhas de mau gosto acerca da minha falta de forma ou o fisíco,  uma vez por outra até entro brincadeira e acho piada, agora quando por norma e sistema das poucas vezes que me vêem insistem, não acho graça nenhuma, mas também ignoro que é a melhor atitude que devemos ter para quem têm este tipo de comportamento, para já não tenho que dar satisfações, corro porque gosto e não para olhar a tempos ou ganhar medalhas, que por sinal até ofereço a crianças, obviamente se melhorar não nego que fico contente, mas para quem raramente treina e atendendo à condicionante asmática, até acho que faço muito, relativamente ao meu fisíco deixo o recado, se estou mais ou menos pesado, preocupem-se com a vossa vida! Falem da bandeira ao avesso, Sá Pinto e SCP, da situação caótica do nosso País etc...

Bem, isto hoje aqui para os meus lados está para o azedo, deve ser efeitos do ainda Benfica Vs Barcelona,  termino deixando uma palavra de solidariedade ao (nosso) amigo/atleta de eleição Luís Rafael que corre pelo Grupo Desportivo Santander Totta, desejando-lhe as melhoras. Um abraço de toda a Equipa e esperámos que regresses em breve ao nosso convívio.

Por vezes damos demasiada importância a certas coisas, como se a razão da nossa vida dependesse dela...

Classificação Geral e Equipas: aqui
Fotos Amantes da Corrida: aqui
A minha prova (altimetria e percurso): aqui

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Vamos tornar realidade o sonho de Analice


Texto na íntegra retirado do site do atleta/campeão Carlos Sá, vejam primeiro o ( excelente) artigo que retrata um exemplo (real) de vida: aqui

 "Partilho com todos vós esta fantástica história de vida e coragem de uma amiga incrível.
 
Depois da partilhada no facebook a 1 de Outubro logo se criou uma onda de motivação para ajudar a nossa amiga na realização do seu sonho.

Contactei a Analice via telemóvel nessa mesma noite e propôs-lhe este desafio: Vamos criar uma conta para que todos que queiram e possam ajudar na realização do seu sonho, eu quero a Analice a correr comigo na 28ª MDS e se vocês me ajudarem na partilha vamos conseguir.

Tenho mais de 5.000 amigos no Facebook, se metade der 1€ temos os 3.500€ para a sua inscrição, eu acredito.

A Analice às 23h estava ainda a trabalhar, uma Srª que deveria ter quem lhe desse carinho e a ajuda-se nas suas tarefas está a fazer precisamente o contrário, toma conta de idosos para sobreviver, é triste mas é a sociedade que temos. - Aqui fica o desafio a todos vós, temos até final de Outubro para conseguir 2.100€ de pré - inscrição.

- A conta criamos em nome do clube que represento (Desnível Positivo) para que haja total transparência e não tenha problemas fiscais.

- Ficou acordado com a Analice, caso não possa participar por lesão ou outro motivo o dinheiro será oferecido a uma instituição de solidariedade social."

Aqui ficam os dados para a transferência:

Nº Conta: 533.10.600081-3 MONT.ASSOC./COLECTIV.
Nome Cliente: DESNIVEL POSITIVO A R LUSO GALAICA
NIB: 0036.0533.99106000813.70
IBAN: PT50.0036.0533.9910.6000.8137.0
BIC/SWIFT: MPIOPTPL

"Em criança foi abandonada pela família. Trabalhou como escrava até se casar. Fugiu do marido, grávida, porque ele foi violento. Aos 37 anos deixou de fumar e começou a correr. Hoje, com 68 anos, acha as maratonas demasiado fáceis, por isso prefere provas com mais de 100 quilómetros.

Eram 23h55 do dia 31 de Dezembro de 1980 quando Analice Silva, 37 anos, apagou pela última vez um cigarro. Dias antes, o jornal que passeava de mesa em mesa no café onde trabalhava, no Rio de Janeiro, noticiara que os pulmões de um fumador necessitam de dez anos de repouso até voltarem a ter saúde. “Dez anos é muito tempo. Fiquei assustada. Então achei que a única maneira de voltar a ter os meus pulmões cor-de-rosa era correndo. E comecei logo nessa noite”. Nessa passagem de ano, Alice calçava uns chinelos e vestia um macacão curto, de calções e alças. Mesmo assim, desceu até ao calçadão de Copacabana e começou a correr. Foi do Leme até ao Arpoador e voltou. Depois repetiu. “Fiz 16 quilómetros. Foi a primeira vez que corri na vida. Fiquei toda partidinha”, recorda à SÁBADO.
Analice Silva, hoje com 68 anos, vive num pequeno apartamento em Odivelas com o gato Kikas, que trata por “meu filho”, tem uma reforma de 272 euros, cuida de um senhor de idade para ganhar mais algum dinheiro e continua a correr. Mas já se deixou de aventuras de 16 ou 20 quilómetros. O mínimo que faz, para lhe dar algum prazer, são maratonas. E mesmo essas já são “demasiado fáceis”.
“Tenho muita pena de nunca ter contado os quilómetros que já fiz na vida. De certeza que estava no Guiness”. Provas de 100 km de estrada já fez 22. “As de 100 km de montanha foram muitas mais, mas já perdi a conta”. Nos últimos três anos fez por três vezes Os Caminhos do Tejo, corridas de 146 km. Foi também a Espanha correr provas de 167 km, subiu do Alhambra à Serra Nevada (50 km, sempre a subir), fez Lisboa-Mação (254 km). A maior prova em que entrou na vida foi a Volta ao Minho (385 km). Maratonas e meias-maratonas já foram tantas que nem entram nas contas. Até aos 70 anos, ainda quer correr muito. E gostava de ainda conseguir cumprir o maior sonho da vida: participar na Maratona dos Sabres, uma prova de 243 km pelo deserto do Sahara, em Marrocos. “É um sonho. É o meu sonho. Sei que não vai acontecer, porque é uma prova muito cara, não tenho dinheiro e ninguém quer patrocinar uma velha. Mas enquanto for viva vou ter esperança”.

Esperança é o nome da vila onde Analice nasceu, em Paraíba, nordeste do Brasil. “Tive seis irmãos, mas quatro morreram. Só fiquei eu e a minha irmã mais nova”. Numa casa “com falta de amor”, não foi feliz. Com três anos, o pai entregou-a a uma senhora que vivia na cidade mais próxima, Campina Grande. Foi ela que fez de Analice a sua escrava. “Eu fazia tudo o que havia para fazer, desde os três ou quatro anos de idade. Cuidava de bebés e aguentava o trabalho de roça, ou quinta, como se diz aqui em Portugal. Era escravatura, mesmo”. A única coisa que recebia era uma cama. “Comida só mesmo quando havia”. Ainda hoje se lembra de ter ficado de castigo porque um dia comeu um pedaço de pão sem pedir autorização. “Era gente pobre armada em rica, que queria ter criados, mas que não podia pagar. E então tinha escravos”.
Acabou por ser devolvida à família aos oito anos. Encontrou a mesma casa de onde saíra. “Não havia aconchego, só violência. E então fugi”. Meteu-se num autocarro e foi até ao Recife, onde continuou a fazer trabalho escravo, sem receber salário. Até ao dia em que conheceu Evandro, um pescador de lagosta de Recife por quem se apaixonou. “Antes de nos casarmos, disse-lhe que tolerava tudo no casamento, menos porrada”. Evandro aceitou a condição e levou-a à letra. “Ele estourava todo o dinheiro que ganhava em meninas e bebida. Mas eu fechava os olhos, desde que ele não me batesse”. A paz durou pouco. Estavam casados há seis meses quando uma discussão terminou mal. “Ele deu-me um empurrão. Nem foi uma coisa muito violenta, mas foi em frente a uma vizinha. Se fosse em nossa casa, se calhar perdoava, mas por ter sido em frente a outra pessoa fiquei com tanta raiva, tanta vergonha, que me fui embora”. Analice revirou o colchão onde o marido guardava o dinheiro e tirou o suficiente para o bilhete de autocarro até ao Rio de Janeiro. “Foram oito dias de viagem, por estradas de asfalto. Passei tanto frio e tanta fome que só eu sei”.
Chegou ao Rio quase sem dinheiro, sem família ou amigos. “Comprei um jornal e comecei a ver os anúncios de emprego”. Arranjei trabalho em casa de umas pessoas a fazer o que sempre fiz, limpeza, cuidar de crianças, tudo”. Ao fim de umas semanas percebeu algo de diferente no seu corpo. Estava grávida. “Não fazia ideia que tinha engravidado no Recife. Mas não contei nada ao meu marido. Ele nem sabia que eu estava no Rio. Deixei-lhe um bilhete a dizer que tinha ido para norte, e vim para sul, para ele não me procurar”.

A gravidez levava sete meses quando a criança deu sinal de querer nascer. Analice foi para o hospital, fizeram-lhe o parto mas o bebé nasceu morto. “Hoje, acho até que foi uma sorte. Eu não podia ter uma criança naquelas condições. Para quê? Para virar um malandro?”. Nunca mais quis ter filhos. Nem quando se apaixonou por Júlio, um boliviano “muito decente” com quem foi feliz durante nove anos. Com emprego durante o dia, estabilidade em casa, Analice aproveitou a noite para estudar e tirar o ensino primário. “Foi já nos anos 70. Sabia que sendo analfabeta não ia conseguir muita coisa, por isso estudei”.

Até que chegou a tal passagem de 1980, a do último cigarro e da primeira corrida. Dia 1 de Janeiro correu novamente no calçadão, outra vez à noite. Dia 2 também. E em todos os outros dias do mês. Foi outra notícia de jornal que a fez levar a corrida mais a sério. “Eu li no jornal: Corrida feminina Avon. E decidi participar. Fui lá e ganhei uma medalha e uma camiseta. Achei que era uma campeã. Uns dias depois, foi a corrida do Corcovado. Mais uma medalha e outra camiseta. E no mês seguinte fiz a primeira meia-maratona. Demorei três horas”, recorda Analice, soltando uma gargalhada.

Um ano depois, chegaram a maratona e a primeira prova de 100 quilómetros, entre Uberlândia e Uberaba, em montanha, sempre a subir e a descer. “Venci essa prova e fiz 11h42m, que passou a ser recorde sul-americano. E foi durante muito tempo. Nos três anos seguintes ganhei sempre essa corrida”.
Analice começou então a olhar para o calendário internacional de provas. Queria fazer a sua quinta corrida de 100 quilómetros no estrangeiro. Viu que havia uma em Santander, Espanha. “Fui lá e ganhei. Depois já não quis voltar para o Brasil. Fui para Madrid, procurei o consulado brasileiro e foi o embaixador que me deu o dinheiro para eu vir para Lisboa”.

Analice chegou a Portugal em finais de 1986. Só conhecia uma pessoa, Eugénia Gaita, uma corredora amadora que era enfermeira no Hospital de São José. Arranjou emprego em casa de um casal na Av. João XXI, em Lisboa. “Era como no Brasil — não ganhava. Trabalhava para ter comida e sítio onde dormir”. Sem tempo para treinar, Analice arranjou um recurso. “Como o prédio da casa onde trabalhava tinha sete andares, subia e descia as escadas durante três horas seguidas. Dava para treinar”. Nos dias mais calmos, conseguia ir até ao estádio do Inatel onde ficava a dar voltas à pista até contabilizar 50 quilómetros. Nos dias de descanso ia de transportes até ao Cais do Sodré e corria até Cascaisa, e voltava. Ou então apanhava um autocarro para Setúbal, e atravessava a Arrábida até Sesimbra. “Eu não saía de casa para correr menos de três horas. Isso não é treino”.

Hoje, Analice já não treina. Só corre provas. Nunca está doente e só se chateia com as crises de ciática, que vão e voltam. Quer correr até ao dia 20 de Dezembro de 2013, quando fizer 70 anos. “Acho que já chega. Mas se calhar quando chegar a altura vou achar que sou mais feliz se continuar a correr”.
Obrigado Analice.
Carlos Sá"