quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Atleta do Mês - Quem é quem?


A (nossa) primeira entrevistada do blogue, Amantes da Corrida, na rubrica, "Quem é quem?" que pretendo que seja publicada na última quinta-feira de cada mês é com a veterana que nos enche de orgulho a todos nós portugueses, a consagrada Maria Orlete Mendes, atleta de gabarito nacional e internacional que pertence ao Centro de Atletismo das Galinheiras, com um percurso intocável e um currículo invejável

No ano passado foi " apenas" campeã nacional, na distância de 5.000 metros de marcha atlética e dos 3.000 metros de corrida. Nos Campeonatos Europeus de Atletismo em pista aberta que decorreu em Budapeste ocupou o último lugar do pódio nos 3.000 e 10.000 metros em marcha.

No Campeonato do Mundial, em Agosto na Turquia, sagrou-se campeã nos 5.000 e 10.000 metros.



Fui recebido hospitaleiramente pela afável sobrinha, Susana Mendes e a atleta entrevistada, que vieram ao portão buscar-me, logo à entrada  de casa no "hall" e restantes divisões diversos quadros com fotografias a ilustrar os feitos grandiosos, por vezes em plena prática desportiva, outras com os amigos, de quem nunca esquece e que fazem parte do seu passado e trajecto vitorioso. É impossível perante tanta grandiosidade e humildade desta campeã, sempre simpática, ficar indiferente à sala onde troféus, taças e medalhas, estão religiosamente expostos.

Fato de treino de uma marca branca, uns ténis calçados num rosto acolhedor, fazem-me sentir como se fosse do The New York Times, considerado o melhor jornal do mundo, aqui se evidência uma das suas características, além da desportiva.


Bem comecemos a entrevista!


Amantes da Corrida: Como começou a correr/marchar?
Maria Orlete Mendes: Eu sempre gostei de atletismo, mas enquanto fui casada, nunca tive essa oportunidade, em dada altura vi na televisão o anúncio da Corrida da Ponte 25 de Abril (Meia-Maratona de Lisboa) e decidi inscrever-me e sozinha fui participar por mera brincadeira.

Este foi o meu primeiro contacto com o atletismo!

A.C.: Continua a participar nesta prova?

M.O.M.: Participo na prova sempre que posso, lembro-me de não ter participado pouquíssimas vezes, devido ao facto de coincidir com provas de marcha, que não poderia mesmo faltar.

A.C.: Ganhou a primeira taça, numa prova organizada pelo Centro de Atletismo das Galinheiras, clube que representa desde então, numa senda triunfadora de êxitos e sucesso desportivo, qual é o momento mais feliz ao longo deste bonito percurso?

M.OM.: Para mim, qualquer dia que corra já é um dia feliz, mas penso que o momento em que fui mais feliz, foi quando participei no Campeonato Mundial em Porto-Alegre, no Brasil. Por diversos factores, foi a minha primeira viagem fora da Europa e depois porque ia representar o meu país e correr ao lado de excelentes e brilhantes atletas de todo o mundo, foi então que quando dei por mim, estava a subir ao pódio em 3 das 4 provas em que participei (2º.lugar nos 10.000 metros, 2º.lugar nos 5.000 metros e 2º.lugar na meia-maratona), sendo que esta última foi uma aposta pessoal, porque o meu treinador não queria de modo algum que a fizesse. Mas, definitivamente este é uma momento muito feliz que irá ficar marcado eternamente

A.C: Tem 2 filhos e 2 netos, eles correm ou já incutiu neles o gosto pela corrida?

M.O.M.: Apenas um dos meus filhos, o mais novo, que participou em algumas provas e ainda hoje se tiver oportunidade participa em provas, contudo tornou-se complicado uma vez que se encontra no estrangeiro, quanto ao meu filho mais velho, não tem disponibilidade para a prática do atletismo, porque o seu trabalho não o permite.
No que diz respeito aos meus netos, eles andam na escola e fazem desporto na escola, segundo palavras deles! Mas todos de uma e outra forma, em geral a família apoia-me incondicionalmente.

A.C: Qual a prova de sonho, há alguma que gostaria de realizar? Ainda lhe falta fazer alguma coisa?

M.O.M: Eu não tenho nenhuma prova de sonho, porque cada prova que eu realizo, já é um sonho concretizado, o meu sonho era participar em todas se pudesse.
Sinceramente sinto que não me falta fazer mais nada, pois sinto-me realizada e feliz dia após dia e para mim isso é o que realmente importa, mas claro que tenho a ambição de melhorar os meus tempos.

A.C.: Qual o conselho que dá aos mais novos, ou que agora começou a correr?

M.O.M: O meu conselho é que acima de tudo aproveitem a sua condição física jovem que possuem e que não desistam dos sonhos e que acreditem que tudo é possível, porque se eu com a minha idade e tendo começado tardiamente, consegui alcançar tanta coisa e cheguei aqui, mais facilmente os jovens que agora começam o conseguem.
Para quem agora começou a correr, façam como os "Amantes da Corrida", corram, façam um investimento na vossa saúde, a prática do exercício físico só nos traz benefícios.

A.C.: Quantas vezes treina por semana?

M.O.M.: Treino 6 vezes por semana, aproximadamente 1H: 30 entre o ginásio e a pista de atletismo. O meu treinador, o Prof. José Henriques ralha com os mais novos porque não treinam, ou treinam pouco e comigo também ralha, mas porque treino demasiado (esboça um largo sorriso)

A.C.: Corre para viver, ou vive para correr/marchar?

M.O.M: De certa forma creio que as duas afirmações se aplicam a mim, contudo acho que a primeira é a que mais se adequa. A cada dia que passa, sinto mais necessidade e vontade de fazer isto o resto da minha vida.

Se por este ou aquele motivo não posso participar numa prova ou até mesmo quando falto a um treino, o meu mundo desaba completamente, é como se fizesse parte da minha vida, da minha alimentação diária e de repente faltasse a refeição principal. A comida alimenta-me, por isso posso dizer convictamente que corro para viver!